Eu deveria estar escrevendo
sobre as minhas ultimas viagens, tenho muitas coisas pra falar delas e com
certeza o farei, sei que ando meio relaxa para escrever aqui, mas esses dias outros pensamentos tem dominado a
minha cabeça, principalmente com o meu aniversário e estando cada vez mais
próxima dos 30. O engraçado é que aqui os sentimentos são tão intensos e tão significantes, fazer um
intercâmbio como esse que estou fazendo é algo difícil de ser explicado, mas
brinco muitas vezes que aqui me sinto no Big Brother pois não há meio termo,
tudo que vivo e sinto é incomensuravelmente intenso, como se nesses quase 8
meses aqui eu já tivesse vivido e aprendido muito mais que nesses meus 27 anos.
Esse ano tive um aniversario diferente, sem o abraço e o carinho da
família, sem poder tomar umas e dar boas risadas com as minhas melhores amigas,
sem poder comer meu bolo favorito, sem presentes, mas com uma outra perspectiva
e com mais questionamentos do que
nunca. Com os 30 batendo a minha porta
fico me indagando sobre a pessoa que me tornei e as coisas que conquistei na
minha vida e aquela famosa crise volta a me rondar, ainda tenho a impressão que não estou onde
deveria com a minha idade, que não tenho as coisas que as pessoas esperam que
eu tivesse. Mas que merda será que isso quer dizer?! Quer dizer que a sociedade
continua enchendo a nossa cabeça (e eu também não consigo fugir disso às vezes)
de como se deve viver a vida e das coisas que “se precisa” para ser feliz. Eu fico pensando que não tenho uma carreira
(male má sei com o que gosto e quero trabalhar), que não tenho minha casa, um
companheiro, que talvez já devesse ter tido filhos. É difícil ser sozinho nesse
mundo, mas pode ter certeza que ser mulher sozinha é muito mais e a sociedade
faz questão de mostrar isso sempre.
Família Holandesa |
Celebrando com a BF |
Vejo muita gente me olhando com dó quando falo que estou viajando
sozinha, nunca vi um olhar desses ser direcionado a um homem, pelo contrário,
esse ai é tido como aventureiro. Consigo
imaginar inúmeros amigos dos meus pais perguntando o que eu faço da vida e seu
desapontamento ao descobrir que com 27 anos não sou casada e estou morando fora
e viajando pelo mundo sozinha, como se isso me tornasse uma pessoa condenada,
uma coitada que esta correndo contra o tempo para se arrumar na vida. De novo
consigo imaginar que se a situação ao contrário fosse de um homem esses mesmos
amigos sorririam orgulhosos achando demais que um “rapaz aventureiro” esteja
aproveitando a vida, pois é muito jovem e é isso que deve fazer. Seria mentira
se eu dissesse que isso não me incomoda, que eu não me sinto menosprezada, que
eu não estou cansada de enfrentar esse tipo de situação. Não tem nada que me incomode mais nessa vida
do que a desigualdade ainda existente entre homens e mulheres, porque eu vivo
isso todos os dias desde que eu nasci, eu carrego o medo comigo por onde eu
vou, tenho que lutar contra o preconceito, a falta de respeito e a humilhação
diariamente e preciso incansavelmente levantar essa bandeira todos os dias, ter
forças pra continuar sabendo que algum babaca ainda pronuncia um “não existe
mais machismo” enquanto mulheres estão sendo espancadas, estupradas e mortas, e
mesmo assim acreditar que um dia minhas filhas e netas poderão viver em um
mundo onde de fato isso não exista mais.
Presentinho do Universo |
Então neuras a parte, chego à
conclusão que continuo no caminho certo e que sinto orgulho da mulher forte e
inteligente que me tornei aos 27 anos (ainda que eu não me sinta com 27 anos),
tenho muito a agradecer por tantas oportunidades e pessoas maravilhosas na
minha vida, me sinto abençoada. Não que não seja difícil e solitário as vezes , mas também é gratificante e me traz paz de
espirito saber que eu não vivo minha vida pelo o que esperam de mim, que viajar
e conhecer o mundo, absorver historias e culturas diferentes me fazem feliz,
que minha luta diária é comigo mesma pra me tornar um ser humano melhor pra mim
e pro mundo. Que eu não tenho vergonha de ter quase 30 e não ter uma vida de
comercial de margarina e prefiro a dor da solidão a ter um relacionamento
qualquer só pra não ter que me sentir assim, que eu sou grata pelas pessoas que
fazem parte da minha vida e até pelos meus erros, pois eles também fazem parte
de quem eu sou e me levaram a chegar
onde eu cheguei. Que muitas coisas que eu acreditava mudaram, mas não mudou a minha
vontade de continuar lutando pelas coisas que acredito, que viver é dolorido
mas dói muito mais perceber que anos se passaram sem se viver de verdade. Posso
dizer que com 27 anos eu não estou onde eu imaginei que estaria e quer saber, acho
que estou bem melhor assim, e o melhor que eu posso fazer é aproveitar esses
meus últimos 4 meses aqui da melhor forma possível. A vida continua me
surpreendendo e eu quero fazer o mesmo com ela.